O surto escrito é literalmente o que significa. É todo pensamento que tem de ser abafado por qq razão que seja. Aqui todo "surto escrito" é permitido desde que seja verdadeiro...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Casa própria!!

Agora o Surto tem casa própria!!!
O blog tem um endereço próprio, todos os posts estão lá e mais alguns novos tb!!

www.surtoescrito.com.br

Divirtam-se!!
Ana Claudia

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Nossa história Parte II

Enquanto ele girava sem parar a colher dentro do café a mente dela ia longe...

Não se falavam já havia um tempinho. E naquele dia ele ligou com uma voz que ela sentia que ali tinha problema.

“_Eu te chamei aqui porque queria te contar uma coisa... Disse ele com um olhar nervoso. Decidi me reconciliar com minha esposa pelos motivos que você sabe quais são”. Leia-se: minha filha de apenas quatro anos, meu apartamento dos sonhos que está para ser entregue, meu escritório que é em sociedade com ela, muitos anos juntos, minha futura candidatura para vereador, dificuldade para me separar, etc, etc, etc...

Homens!!! Ela pensou. Sempre a mesma coisa. Em sua mente machista cultuam entre outras coisas o comodismo e a covardia. E ela o conhecia muito bem. O suficiente para saber suas fraquezas de caráter e uma delas era a covardia. Conhecia-o tão bem que já imaginava que aquilo estivesse acontecendo. Sabia o quanto ele era fraco, principalmente quando sua filha entrava na conversa, mais ainda, conhecia suas idéias com relação ao casamento. Não tinha casado para se separar essas eram suas palavras e aquela mudança brusca de rotina e a distância da filha por mais que ele tivesse dado o pontapé inicial, tinham tirado seu chão, seu teto e tudo o mais.

“_É isso o que você quer”? Ela perguntou à queima roupa.

Ele não respondeu. Baixou os olhos e começou a mexer a colher de café sem parar dentro da xícara. Foi o suficiente para ela entender o que não estava sendo dito. Mas decidiu que essa ele teria que responder. Que fosse covarde no quinto dos infernos! Essa pergunta ele ia responder sim! Perguntou de novo, desta vez segurando a mão dele e obrigando-o a parar de mexer aquele café que ela estava quase jogando longe.

“_É isso o que você quer? Se me arrastou até aqui nesse frio de matar vai ter que me responder!”

Ele olhou para o lado e ela viu seus olhos marejados. Decidiu parar. Chutar cachorro morto é covarde e vê-lo com a expressão de um animal indo para o abate cortou o coração dela. Ele voltou para a colher dentro do café. Ela abaixou a cabeça e seus pensamentos começaram a martelar. Conhecia bem aquele homem e aquela relação que ele tinha e sabia que a atitude dele naquele momento era apenas arrastar o caixão que já estava com o defunto podre dentro. E por mais que ela soubesse que aquilo era uma tentativa de adiar o inevitável não teve coragem de dizer. Conhecia aquele casamento dele o suficiente para saber que tinham coisas que haviam se quebrado e que eram impossíveis de remendar. Mas ele teria que descobrir isso sozinho, assim como ela mesma o fez, no fim de seu casamento. Ela tinha tentado voltar também e consertar as coisas mas percebeu que o que se quebra uma vez... não há cola que restaure. Enfim, o que dizer? Decidiu pela primeira vez na vida não ser franca com ele e menos ainda dizer o que pensava. Respirou fundo e falou, desta vez com uma voz mais amena:

“_Acho que você tem todo o direito de tentar de novo. Eu mesma fiz isso antes de me separar definitivamente. Espero de todo coração que tudo dê certo desta vez para você e sua família”. Abaixou a cabeça, por mais que quisesse não conseguia ser cínica. Não queria que ele tivesse percebido. E ficou olhando para seu café, muda. O silêncio pairou entre os dois de forma avassaladora.

“_Me fala alguma coisa”... Pediu ele com o olhar triste.

Falar o que?!? Ela pensou. Falar que o que ele estava fazendo era perda de tempo? Que ele estava sendo covarde e pior ainda: impedindo a chance de os dois (ele e a esposa) serem felizes? Que cedo ou tarde o inadiável tomaria conta de tudo de novo e talvez fosse pior? Que a coisa que ela mais abominava numa pessoa ele estava fazendo agora que era a acomodação? Não ia adiantar nada ela falar o que pensava. Então se fosse para ele fazer aquilo (e ele ia fazer, ela conhecia a cabeça dele, quando cismava com alguma coisa parecia uma mula empacada) que fosse com alguém torcendo a favor e não contra.

“_No final tudo dará certo, querido. Acredite e confie”.

Abraçaram-se e se despediram. Ela reclamou pelo caminho inteiro até a garagem de prédio por fazê-la sair naquele frio só para notificá-la de suas decisões amorosas. Era só o que faltava mesmo!

O elevador ia subindo e ela pensando... Que direito ela tinha de julgar? Tantas coisas unem duas pessoas: comodismo, amor, paixão, dinheiro, negócios, estabilidade, dependência emocional. Porque ele tinha que ser igual a ela numa busca louca por felicidade que muitas vezes ela mesma se questionava se existia? Constatou que eles realmente eram diferentes: ela buscava sempre a paixão, ele queria estabilidade. Se ele estava certo ela não sabia. O que ela tinha certeza era que o que temos que passar nesta vida não deixamos na porta de ninguém. O que quer que acontecesse com ele dali pra frente que fosse para seu crescimento. Que acontecesse o melhor para ele (e ela também) naquele momento.

Entrou em casa e mandou a seguinte mensagem para ele:

“Meu querido, desejo para você o que quero para mim mesma. Que você alcance aquela porção de felicidade que nos faz desejar que a vida seja eterna do lado do outro. A vida é bela e curta demais para a infelicidade. Mande notícias! Beijos”.

Desejou aquilo de coração e em dez minutos recebeu a mensagem:

“É por isso que temos uma união que transcende o tempo... beijos”.

Desistiu de tentar entender o que unia os dois. Desejava apenas que ele fosse feliz e pronto. Não sentiu alegria nem tristeza ao ouvir que ele tentaria a reconciliação. Sua cabeça pulou para cinqüenta anos mais tarde. Imaginou os dois tomando café no asilo e relembrando todas as loucuras que tinham feito juntos e contando para todos os outros velhinhos. Riu baixinho. Tentou imaginar ele velho. Riu mais ainda. Se ele estava pintando o cabelo com quarenta anos imagine o que ele faria com sessenta? Não, ela não queria nem imaginar! Seria hilário! Leu a mensagem dele de novo. Respondeu com coração limpo:

“Meu anjo, o que é verdadeiro sempre é eterno. Beijos e boa sorte”.

Ana Claudia